domingo, 19 de junho de 2011

UMA IMORALIDADE COM O DINHEIRO PÚBLICO

Pressa com Copa lembra Pan. E roubo

10:12:38

Ratos miram um queijo suculento com o fim de licitações para obras. Tudo em nome do futebol e alegria dos políticos. A Fifa grita, pede mais pressa e os governantes manobram, sorrindo


Véspera de férias, a polícia costuma alertar a sociedade. Em caso de viagem, a casa deve ser mantida fechada, o cofre bem trancado, pois uma porta aberta é convite para os ladrões.

Estamos caminhando para recessos do Legislativo e do Judiciário. E antes que os fiscais do Executivo fechem seus gabinetes, vai uma sugestão: tranquem as torneiras das verbas públicas, para que a tentação do dinheiro fácil não leve a contratações intempestivas para que as obras da Copa não atrasem.

Licitações em caso de emergência são segredo de Estado, anunciou a presidente Dilma Rousseff, provocando uma reação em cadeia de diferentes segmentos da sociedade. Por que pretender justificar o impoderável sob o argumento de compromissos com a Fifa?

A presidente protagonizou uma cena que mereceu aplausos dos governadores que terão cidades-sedes da Copa. Uma reação estranha, essa, repudiada por um coro de fiscais da coisa pública.

Vozes se levantam contra a prevaricação anunciada. A mídia critica o advogado-geral da União, Luiz Adams, que solícito ao governo como uma freira na Praça de São Pedro, justifica o "segredo de Estado" proclamado pela presidente da República, afirmando que a proteção de parte das obras com o sigilo é comum em outros países.

A diferença é que no 1º Mundo não há impunidade como aqui. Lá fora a lei é cumprida, a Justiça funciona, e os cárceres também são solícitos ao acolher ladrões, sejam eles de pequenas casas de incautos viajantes, sejam eles os desprezíveis governantes que buscam o poder para tirarem a máscara e vestirem a capa de corruptos.

O que se está preparando é uma armação engenhosa contra os otários, que somos nós, o povo. Otários também seriam os ministros do Supremo Joaquim Barbosa e Marco Aurélio Mello. Os dois soltaram o verbo. O açodamento nas contratações é inconstitucional; é o escamoteamento da coisa pública. Em síntese, é algo tão absurdo que pode ser definido como um retrocesso na lisura dos homens de bem.

O próprio presidente do Tribunal de Contas da União, Bemjamin Zymler, considera a aceleração das obras da Copa via afrouxamento das licitações uma imoralidade.

Vê-se hoje a opinião pública revoltada, a mídia contra, os organismos da sociedade em pé de guerra porque o governo, através da sua maciça maioria parlamentar, impôs à Câmara a aprovação de uma aberração legal pela qual suspeita-se que muitos ganharão muito dinheiro com o superfaturamento das obras.

Se com a Lei de Licitações já era grande a incidência de desvios do dinheiro público pelas diversas fraudes que se cometia, avalie-se o que será numa  selva sem lei, sem xerife, sem tribunal de contas e com custos sigilosos.

Tal flexibilização, avalia o jornalista Leonardo Mota Neto, será ótima para um país de gélida respeitabilidade jurídica, cívica, ética e moral como a Dinamarca.

Mas aqui, a tentação da burla será imensa, mesmo porque todas as empreiteiras estarão trabalhando dia e noite para honrar o compromisso do governo brasileiro com a Fifa, de preparar os estádios para a Copa das Confederações de 2013.

Alegar atraso e a necesssidade de aumentar o orçamento serão um ato protegido por lei. Só no Brasil a corrupção é tutelada pelas instituições.

O Senado terá mais uma vez a função nobre e histórica de travar essa ignomínia contra a imagem do Brasil.

Terá que resgatar a cidadania, de ser considerada otária, tendo que aplaudir a esperteza das empreiteiras macomunadas com flancos espertíssimos do governo.

Já se disse que o andor deve ser levado com cuidado, porque o santo é de barro. Se cair, quebrar, do seu bojo pode sair rios de dinheiro. E misturado com a água para trabalhar o cimento dos estádios, vira lama. Dinheiro sujo, portanto.

É preciso estar alerta. O fator tempo, por mais tempo que houvesse, provocou prejuízos estimados em 10 milhões de reais nas obras dos Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro.

O governador Agnelo Queiroz, então ministro do Esporte, sabe disso. Tanto, que está sendo processado pelo Ministério Público por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

E hoje ele administra uma verba bem maior. Algo em torno de 2 bilhões de reais. E, pior, sinalizando que as obras estão atrasadas.
Fonte: Blog do José Seabra

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