domingo, 3 de julho de 2011

RELAÇÕES ESTRANHAS ENTRE JUDICIÁRIO/DF E AGNULO!

"Caríssimo amigo Agnelo"

10:02:46

ÉPOCA obteve uma carta na qual um desembargador pede emprego para a sobrinha ao governador de Brasília, Agnelo Queiroz. E ela foi nomeada


MURILO RAMOS

No dia 7 de fevereiro deste ano, o presidente em exercício do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, desembargador Dácio Vieira, enviou uma carta singela ao governador de Brasília, Agnelo Queiroz, que assumira o cargo no mês anterior. Em papel timbrado do Tribunal, o desembargador escreveu: “Caríssimo governador e amigo Agnelo, tomo a liberdade de encarecer junto a Vossa Excelência pedido já encaminhado, tratando-se de permanência de minha sobrinha Flávia Coelho, que já estava há mais de dois anos contratada como assessora na Defensoria Pública, órgão vinculado à Secretaria de Governo” (leia a íntegra da carta abaixo).

O desembargador Dácio precisou de apenas 21 linhas para produzir um pedido de nepotismo público por escrito e com emblema. Não é uma novidade histórica. Na carta em que relatou a Dom Manoel, rei de Portugal, o descobrimento do Brasil, Pero Vaz de Caminha embutiu o pedido de libertação de um genro que estava no cárcere. Mas imaginava-se que a modernização institucional do país, desde a Constituição de 1988, tivesse imposto constrangimentos a esse tipo de prática tão desabrida. O valor da carta decorre da absoluta simplicidade e franqueza do desembargador ao interceder em favor da família. Ao final da missiva, depois de fornecer as credenciais da sobrinha (“É formada em Direito”), ele acrescentou uma educada observação: “Estou à disposição para tomarmos o café ou chá”.

Não se sabe se Dácio e Agnelo encontraram-se para um café, mas a sobrinha do desembargador, que perdera o cargo na transição do governo em Brasília, foi readmitida menos de dois meses após a entrega da carta. E ainda ganhou aumento. Por meio de sua assessoria, o governador Agnelo afirmou que não recebeu a carta. O desembargador Dácio informou, por meio de seu advogado, que “não há ilegalidade no pedido”.

O desembargador Dácio, em julho de 2009, ficou famoso ao proibir o jornal O Estado de S.Paulo de publicar notícias sobre corrupção que envolviam o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney. Descobriu-se, em seguida, que Dácio era amigo de Sarney e de outros líderes do PMDB. A censura ao jornal permanece. Suas amizades, ao que parece, agora se estendem a outros partidos.
CAMARADAS
O desembargador Dácio Vieira (à esq.) tem muitos amigos em Brasília. Da direita para a esquerda, aparecem o senador Renan Calheiros, o deputado distrital Agaciel Maia e o senador José Sarney
Fonte: Revista Época

Nenhum comentário:

Postar um comentário